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Índice de verbetes


Ermance Dufaux



Ermance Dufaux de La Jonchère (Cambrai, França, 8 de março de 1839 - Suresnes, França, 3 de março de 1915) foi uma notável médium precoce, autora de extraordinárias obras literárias, que muito contribuiu com Allan Kardec para a codificação do Espiritismo, inclusive médium da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, da qual foi sócia-fundadora juntamente com seu pai; de forma especial, colaborou com a edição revisada de O Livro dos Espíritos. De sua produção mediúnica, destacam-se as obras História de Luís XI ditada por ele mesmo (1853) e História de Joana d’Arc ditada por ela mesma (1855). Entre as entidades espirituais que se valeram dos seus dotes mediúnicos, destaca-se o Espírito de são Luís, patrono da SPEE. A senhorita Dufaux foi, portanto, uma das maiores figuras da primeira geração dos espíritas.


Tradicional ilustração de Ermance Dufaux (1839-1915)



Origem familiar

Ermance Dufaux nasceu no ano seguinte ao casamento de seus pais: Jacques Dufaux de La Jonchère e Léonide Groslevin, que originalmente lhe deu o nome de Hermance, conforme consta nos seus registros de nascimento e de óbito. Este nome é o mesmo topônimo de um rio que corre na fronteira entre a França e a Suíça, bem como de uma comuna Suíça às margens deste mesmo rio. Atribui-se a origem deste prenome à forma feminina de Hermann, um prenome comum nos povos germânicos; mas muito faz lembrar Hermes (Hermês, em francês), uma das divindades da mitologia grega (equivalente a Mercúrio, nos mitos romanos), caracterizado como o mensageiro e intermediário entre os deuses do Olimpo e a humanidade, além de patrono da magia e da advinhação; portanto, uma espécie de médium. Entretanto, por uma razão ora ignorada, a menina assinava suas obras na forma Ermance — sem a letra H — que é a que adotamos, por estar consagrada no movimento espírita.

Ela é natural de Cambrai, uma comuna francesa na região norte do seu país; teve uma irmã mais nova: Marguerite Marie Dufaux, nascida em 1851. Seu pai trabalhava numa função estatal equivalente a fiscal da receita (“contrôleur de contributions directes”, segundo o registro de nascimento de Ermance).


Desabrochar mediúnico

Ocorreu com a menina Ermance o mesmo que com outros tantos, especialmente em sua época, quando eclodia a extraordinária fenomenologia do Espiritualismo Moderno: o desabrochar da mediunidade. Precocemente, a jovenzinha recebia a visita de Espíritos que escreviam ou ditavam mensagens.

Canuto Abreu em sua obra O Livro dos Espíritos e sua Tradução Histórica e Lendária — que, como o próprio título diz, se trata de uma mescla de fatos (dados históricos) com ficções (lendas) —, conta que o pai da menina a levou a um médico em Versailles, Dr. Clever De Maldigny, que a diagnosticou portadora de um distúrbio mental, fruto de uma “epidemia”, muito contagiosa, oriunda da América. Uma semana depois, os Dufaux foram orientados pelo famoso magnetista marquês de Mirville, que melhor orientou a família sobre as faculdades psíquicas de Ermance após submetê-la a uma prova, que então psicografou uma mensagem de são Luís:

“Sê tu, Amigo, como um rio benfazejo que derrama por onde passa a fertilidade e a frescura. Perdoa a teus inimigos como o Salvador que, quase ao expirar, orou por seus carrascos, dando assim aos homens seu derradeiro exemplo de bondade. Imita esse nobre exemplo do Mestre, tão pouco seguido pelos vis insetos chamados homens e se dizendo grandes, que passam a existência atrás de grandezas e riquezas, jamais satisfeitos em sua ambição. Ama teus inferiores na hierarquia social. Não imites os homens tiranos de seus irmãos, nem os que, por seus exemplos, transviam as Almas humildes e obscuras que lhe cumpre guiar e proteger neste vale de provações para todos. Os homens que assim procedem se tornam presas do Anjo Rebelado, que os arrastará, depois da morte, aos Abismos Eternos. Não te detenhas ante os espinhos que te barrem o caminho. A estrada da virtude é sempre sofrida e um caminho florido, como aspiras, te conduziria talvez ao Precipício. Paz a ti e aos teus! Particularmente a Ermance. Luis.”
O Livro dos Espíritos e sua Tradução Histórica e Lendária, Canuto Abreu - cap. 4


Então com apenas dezesseis anos de idade, em 1853, Ermance vê sua obra psicográfica ser publicada pela primeira vez: Confissões de Luís XI. História da sua Vida Ditada por Ele Mesmo. Todavia, o órgão sensor do governo francês acabou cassando a obra por considerá-la subversiva para a ordem pública.

Segundo Canuto Abreu, a fama da jovem médium correu o país ao ponto de chamar a atenção do próprio imperador da França, Napoleão III, que a teria visitado em Fontainebleau e, na ocisão, recebido uma mensagem do seu tio, Napoleão Bonaparte, cujo estilo do texto foi prontamente reconhecido. Desde então o monarca teria ficado mais sensível ao espiritualismo, dando mais confiança à moça de poderes psíquicos.

Em 1855, dois anos depois da primeira publicação, a jovem assina o livro História de Joana D'Arc ditada por ela mesma, obra notável de que futuramente Allan Kardec tanto fará propaganda.

Não obstante os evidentes recursos da jovem médium, a desconfiança rondava a vizinhança dos Dufaux; havia quem acusasse que a produção mediúnica de Ermance fosse na verdade de seu pai, acusação rebatida pelo editor da Revista Espiritualista, Z. J. Piérart, conforme um artigo de outubro de 1861:

“Srta. Ermance Dufaux afirma que seu livro é o puro resultado de suas faculdades mediúnicas e que seu pai não teve nada a ver com isso, como pode ser visto pelo resto das seiscentas pessoas de Fontainebleau e Paris que compareceram ao ditado de várias páginas de seu livro, pessoas representadas com honra na mais alta sociedade e cujos nomes divulgaremos, se necessário.”
Revista Espiritualista - outubro de 1861: ‘Mademoiselle Ermance Dufaux et les écrivains magnetistes’, pág. 351


Um exemplo público dos ataques à Ermance e pura demonstração de ignorância e preconceito contra a mediunidade e o Espiritismo, o historiador Henry Abel (1796-1861) escreveu em seu jornal Gazette du Midi de Marselha:

“Veja até onde pode chegar a loucura que leva o povo a acreditar em tudo que parece estar rodeado do prestígio do sobrenatural. Uma jovem de Fontainebleau, Emma D..., um dia imagina se declarar possuída à feição do sr. Hume. Desde os cinco anos de idade, ela passou ao famoso estado de médium. Ela escreveu, nessas condições, uma história de Joana d'Arc sob ditado da mesma, diz ela, da heroína de Vaucouleurs, que colocou seu espírito em comunicação com o seu. Imprimiram este livro; este livro vende e Emma agora tem profissão no mundo; ela está dispensada da agulha e da lição. Mas não estão fundando, diz-se, em Paris um jornal sob o título de Medium? Por que não acreditaram desde logo no prodígio de Fontainebleau?”
Gazette du Midi - 24 de maio de 1857


Engajamento espírita

Diz Canuto Abreu que Ermance e o Sr. Dufaux conheceram Allan Kardec no dia do lançamento de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857; a partir daí, eles passariam a integrar as sessões do grupo mediúnico dirigido pelo codificador espírita, na própria residência dos Kardec.

É fato que a família Dufaux entrou no círculo íntimo do pioneiro espírita logo após o lançamento da obra inaugural da nova doutrina. Primeiramente, sabemos da participação de Kardec numa sessão mediúnica na casa do Sr. Dufaux em 15 de novembro de 1857, conforme suas anotações pessoais publicadas em Obras Póstumas, justamente em seguida ao trecho que fala da dispersão das irmãs Baudin (as duas principais médiuns da primeira edição de O Livro dos Espíritos): era preciso contar com novos medianeiros, e então a donzela vinda de Cambraia parecia satisfazer a essa necessidade.

Adiante, as anotações pessoais de Kardec dão conta de que ele criou, no segundo semestre de 1857, um grupo experimental em sua casa, reunindo-se às terças-feiras, tendo a senhorita Ermance como a principal médium. Com a frequência excedendo e muito as acomodações da casa, ocorreu a ideia da criação de uma instituição, devidamente formalizada e instalada num espaço apropriado para as reuniões de estudo. Além dos custos operacionais para esta fundação, era preciso cuidar da burocracia. Nesse sentido, especialmente, o pai de Ermance teve papel preponderante, como atesta Kardec:

“Mas, então, fazia-se necessária uma autorização legal, a fim de se evitar que a autoridade nos fosse perturbar. O Sr. Dufaux, que se relacionava pessoalmente com o Prefeito de Polícia, encarregou-se de tratar do caso. A autorização também dependia do Ministro do Interior. A tarefa de obter essa autorização coube então ao general X..., que, sem que ninguém o soubesse, era simpático às nossas ideias — embora sem as conhecer inteiramente. Graças à sua influência, a autorização pôde ser concedida em quinze dias, quando, normalmente, leva três meses para ser dada.”
Obras Póstumas, Allan Kardec - 2ª Parte, "Fundação da Sociedade Espírita de Paris"


O empreendimento foi encorajado pelo Espírito de São Luís, mediante as faculdades psíquicas de Ermance.

Assim, foi regulamentada a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1 de janeiro de 1858, instalada numa sala alugada no Palais-Royal, inicialmente na galeria de Valois, e logo depois transferida para uma sala maior, na Galeria Montpensier do mesmo complexo. Portanto, Jacques Dufaux e sua filha foram membros-fundadores da SPEE, e são Luís foi declarado protetor espiritual da Sociedade, com assídua frequência, especialmente se comunicando através da jovem médium de Cambrai.


Representação gráfica de uma reunião mediúnica na Sociedade Parisiense de Estudos EspíritasRepresentação gráfica de uma sessão na SPEE (créditos: CCDPE-ECM)


Antes mesmo da fundação da SPEE, também por intermédio de Ermance, são Luís ainda vai sancionar o projeto de Kardec para a publicação da Revista Espírita, que se realiza naquele mesmo mês de janeiro de 1858. Para tanto, o amigo espiritual de Ermance dita até conselhos sobre as matérias a serem publicadas na revista:

“Será preciso que lhe dispense muito cuidado, a fim de alicerçar as bases de um bom êxito durável. Ao invés de apresentá-lo defeituoso, melhor será nada fazer, pois a primeira impressão pode decidir seu futuro. De começo, deve cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o sujeito comum. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos posteriores, será poderoso auxiliar.”
São Luís, Obras PóstumasAllan Kardec - 2ª Parte, ‘A Revista Espírita’


Na referida revista, Kardec vai fazer diversas menções à jovem médium, a começar pela primeira edição, num artigo sobre o livro História de Joana d’Arc ditada por ela mesma; quando o editor então faz uma defesa dos dotes mediúnicas da senhorita Dufaux:

“Aos que poderiam pensar que a senhorita Dufaux inspirou-se em seus conhecimentos pessoais, responderemos que ela escreveu o livro com a idade de catorze anos, e que havia recebido a instrução que recebem todas as jovens de boa família, educadas com cuidado; porém, mesmo que tivesse uma memória fenomenal, não seria nos livros clássicos que iria buscar documentos íntimos, dificilmente encontráveis nos arquivos do tempo. Sabemos perfeitamente que os incrédulos sempre terão mil objeções a fazer; mas, para nós, que vimos a médium em ação, a origem do livro não poderia suscitar nenhuma dúvida.”
Revista Espírita - janeiro de 1858: ‘História de Joana d’Arc’


Na edição seguinte (fevereiro, 1858), Ermance aparece novamente citada como a médium de uma comunicação assinada por são Luís, ditando conselhos aos avarentos, cujo trecho recortamos como mostra da elevação da mensagem:

“Escuta-me, avaro! Conheces a felicidade? Sim, não é? Teus olhos brilham com um sombrio esplendor, nas órbitas que a avareza cavou mais profundamente; teus lábios se cerram; tuas narinas estremecem e teus ouvidos se apuram. Sim, ouço: é o tilintar do ouro que tua mão acaricia, ao se derramar no teu esconderijo. Dizes: É a suprema volúpia. Silêncio: vem gente! Fecha depressa! Oh, como estás pálido! Todo o teu corpo estremece. Tranquiliza-te; os passos se afastam.”
São Luís, Revista Espírita – fevereiro, 1858: ‘A avareza’


No terceiro mês da revista, Kardec anota uma curiosidade sobre ela: “A princípio, era excelente médium psicógrafa, escrevendo com grande facilidade; pouco a pouco se tornou médium falante e, à medida que essa nova faculdade se desenvolvia, a primeira enfraquecia; hoje, escreve pouco ou com muita dificuldade, mas, o que há de estranho é que, falando, sente necessidade de ter um lápis à mão, fingindo que escreve; é preciso uma terceira pessoa para registrar suas palavras, como as da Sibila.”

Em algumas edições da sua revista Kardec publicou um “Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, descrevendo os diálogos mediúnicos, anotando o nome do Espírito comunicante e do médium, ou pelo menos as iniciais ou a primeira letra do sobrenome; com isso, é possível que a médium citada como “Srta. L. J...” (edição de dezembro de 1859 e setembro de 1860) refira-se a “La Junchère”, portanto, a Ermance Dufaux de La Junchère.

A última menção da Revista Espírita à senhorita Dufaux foi no artigo ‘Remédio dado pelos Espíritos’ da edição de novembro de 1862, trazendo a receita para a confecção de uma pomada que ela havia enviado à SPEE com autorização para a devida publicação. Kardec conta que Ermance tinha estado adoentada com um mal na perna que resistia a todos os tratamentos já sugeridos; ela então, “Cansada de ter empregado inutilmente tantos remédios”, pediu socorro ao seu Espírito protetor, que lhe indicou uma antiga pomada que seu tio (já falecido) havia trazido dos Estados Unidos há muito tempo atrás; Ermance tinha a lembrança desse unguento e de sua maravilhosa eficácia para toda sorte de chagas ou feridas, porém retrucou ao seu amigo espiritual que a receita dessa pomada havia se perdido; mas ele retrucou que lhe ditaria a fórmula, como de fato o fez, e Kardec a reproduziu na sua revista, acrescentando o resultado obtido por Ermance: “Tendo seguido a prescrição, em poucos dias a perna da Srta. Dufaux estava cicatrizada e a pele restaurada. Desde então se sente bem, não lhe sobrevindo nenhum acidente. Felizmente a sua lavadeira também foi curada de mal idêntico.”

Após isto, o sobrenome “Dufaux” foi mencionado na revista referente a abril de 1863, no artigo “Subscrição ruanesa”, numa lista de contribuições para uma campanha de arrecadação de fundos em favor dos operários de Rouen, iniciada por Allan Kardec na edição de janeiro daquele mesmo ano. Muito provavelmente, portanto, deve se tratar da senhorita Dufaux ou de seu pai.


Senhorita Dufaux na codificação espírita

Além das excelentes mensagens publicadas na Revista Espírita, a mediunidade de Ermance Dufaux marca presença na Codificação Espírita. Como nem sempre Kardec assinalava o nome do médium das comunicações transcritas em suas obras, é provável que várias delas tenha passado pela psicografia ou psicofonia da moça; mas é certa a sua participação em pelo menos duas passagens no livro O Céu e o Inferno: na primeira, temos a transcrição do diálogo com o endurecido Espírito da “Rainha de Oude, falecida na França”, diálogo esse originalmente publicado na Revista Espírita de março de 1858, constando o nome da médium:

“Tal rainha se chamava (Janab-i-Alia) Malika-iKishwar Bahadur, falecida no Hotel Laffitte de Paris em 24 de janeiro de 1858. Foi enterrada no famoso cemitério Père Lachaise e era mãe de Nawab Wajid Ali Shah, que tinha Begum Hazrat Mahal340 como segunda esposa. A rainha tinha ido à Europa para interceder em favor do filho, que havia perdido seu reinado para os ingleses.”
Espíritos sob Investigação: resgatando parte da História, Carlos Seth Bastos - 22


A outra passagem em que o intermédio de Ermance é garantido é a do Espírito de Lemaire, um dos “criminosos arrependidos”, cuja história foi reproduzida também na periódico kardequiano de março de 1858; ele foi condenado juntamente com seu bando acusado de cinquenta roubos, três assassinatos e dois incêndios, pelo que foi decapitado em 1857. Então na vida espiritual, resignado, ele descreveu sua falência na dita reencarnação:

“Sendo eu um Espírito inferior, a tendência para o mal estava na minha própria natureza. Quis elevar-me rapidamente, mas pedi mais do que comportavam as minhas forças. Acreditando-me forte, escolhi uma rude prova e acabei por ceder às tentações do mal.”
Lemaire, O Céu e o Inferno, Allan Kardec – 2ª parte, cap. VI


Além disso, estima-se que Ermance tenha sido uma das principais médiuns a contribuir com a revisão de O Livro dos Espíritos para a sua segunda edição, publicada em 1860; Canuto Abreu assevera esta informação em seu livro aqui mencionado.


Principais obras mediúnicas

A primeira obra notável da médium Ermance Dufaux foi Confessions de Louis XI, Histoire de sa vie dictée par lui-même — ou, Confissões de Luís XI, História de sua vida ditada por ele mesmo — recebida quando ela tinha apenas catorze anos e lançada dois anos depois, em 1853, e que, como já sabemos, foi censurada pelo governo. Posteriormente essa proibição foi revista e sua publicação foi autorizada, como se deu, por exemplo, no periódico lionês La Vérité, dirigido por Evariste Edoux, dividida em trinta e oito artigos, de maio de 1864 até maio de 1865, sob o título “História de Luís XI ditada por ele mesmo” (no original em francês: Histoire de Luis XI dictée par lui-même). Antes disso, Allan Kardec havia reproduzido alguns trechos de seu grosso volume nos exemplares da sua revista correspondentes a março, maio e junho de 1858. Assim ele comenta sobre a referida obra:

“Esse trabalho, um dos mais completos no gênero, contém documentos preciosos do ponto de vista histórico. Nele Luís XI revela-se o profundo político que conhecemos; mas, além disso, dá-nos a chave de vários fatos até hoje inexplicados. Do ponto de vista espírita é uma das mais curiosas mostras de trabalhos de fôlego produzidos pelos Espíritos. A esse respeito, duas coisas são particularmente notáveis: a rapidez de execução (quinze dias foram suficientes para ditar a matéria de um grosso volume) e, em segundo lugar, a lembrança tão precisa que um Espírito pode conservar dos acontecimentos da vida terrestre.”
Revista Espírita - janeiro de 1858: ‘Confissões de Luís XI’


Em Histoire de Jeanne D’Arc, dictée par elle-même — ou, História de Joana D'Arc Ditada por Ela Mesma — publicada em Paris no ano de 1855, Ermance dá voz à heroína francesa, famosa justamente por também ser dotada de mediunidade. Kardec fez inúmeros elogias a este trabalho, inclusive anunciando com entusiasmo a reedição de 1860, pela Livraria Ledoyen (a mesma que comercializou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 1857). Nesta oportunidade, o codificador do Espiritismo prestou seu depoimento:

“Já nos referimos a essa obra notável na Revista Espírita, número de janeiro de 1858. Desde essa época nossa opinião não variou quanto à sua importância, não somente do ponto de vista histórico, mas como um dos fatos mais curiosos de manifestação espírita. A reimpressão era vivamente reclamada, e não duvidamos que obtenha um sucesso tanto maior, quanto os partidários da nova ciência são hoje mais numerosos do que no tempo da primeira publicação.”
Revista Espírita - junho de 1860: ‘Bibliografia’


Esta obra sobre a História de Joana d'Arc foi um dos títulos que constava no lote das trezentas obras espíritas que Kardec havia remetido para seu amigo livreiro Maurice Lachâtre a fim de serem comercializadas na Espanha e que acabaram confiscadas pela Inquisição católica e então queimadas no famoso Auto de Fé de Barcelona, no dia 9 de outubro de 1861. A leitura deste livro também é sugerida por Kardec no Catálogo Racional das obras que podem servir para formar uma Biblioteca Espírita, classificada entre as “Obras diversas sobre o Espiritismo”.


Srta. Dufaux conta a História de Joana d'Arc


Nos avisos da Revista Espírita de abril, 1859, o editor dá a entender que a médium também teria intermediado a autobiografia de são Luís (Luís IX), dizendo: “Lembramos aos nossos leitores que a História de Joana d'Arc está completamente esgotada; que a vida de Luís XI, bem como a de Luís IX, ainda não foram publicadas. Esperamos que o sejam um dia e, então, será para nós um prazer anunciá-las em nossa coleção. Até lá qualquer pedido dessas obras não alcançará o seu objetivo.” No entanto, não temos conhecimento se tal publicação se efetivou; o mesmo se aplica a uma possível autobiografia do rei Charles VIII.

Também dividida em capítulos, temos a “História militar d'Eugène de Beauharnais”, vice-rei da Itália, publicada no jornal Le Sauveur des Peuples, dirigido por Armand Lefraise, de Bordeaux, entre as edições de agosto de 1864 e maio de 1865.


Carreira não mediúnica

Por uma razão que desconhecemos, Ermance e seu pai deixaram de frequentar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas pelo menos em 1859; como consequência, seu Espírito amigo e patrono da SPEE, são Luís, passou a se comunicar através de outros médiuns, principalmente o Sr. Rose, o Sr. Collin, a Sra. Costel e a Srta. Huet. Uma possível justificativa para sua retirada pode ter sido o seu problema de saúde, relatado na comunicação que ela enviou a Kardec em 1862, juntamente com a fórmula da pomada recuperada pelo seu Espírito protetor. Doravante, não teremos mais informações de qualquer nova produção mediúnica de Ermance.

Como ela não contraiu matrimônio, é muito plausível que tenha continuado a morar com os pais em Paris. Ali mesmo, na Cidade-Luz, o Sr. Dufaux desencarnou em 1876, aos setenta e um anos, conforme sua certidão de óbito, residindo na Rua Vaneau, muito próximo da Vila de Ségur, onde então habitava a viúva Kardec (Amélie Gabrielle Boudet). Sua mãe faleceu numa data não muito distante, em 1878, ano em que vem a lume um livro publicado com a assinatura de Ermance Dufaux, mas não mediúnico: Le savoir-vivre dans la vie ordinaire et dans les cérémonies civiles et religieuses [Etiqueta na vida cotidiana e nas cerimônias civis e religiosas]. Pois então, ei-la escritora!

Como própria autora, ela vai investir em mais livros: Ce que les maîtres et domestiques doivent savoir [O que senhores e funcionários domésticos precisam saber], de 1884. L'Enfant, hygiène et soins maternels pour le premier âge, à l'usage des jeunes mères et des nourrices [A criança, higiene e cuidados maternos na primeira idade, para uso de jovens mães e babás, de 1886; e Traité pratique de la broderie [Tratado prático de bordado], de 1888.

Além disso, a obra Les maronites et la France [Os maronitas e a França], publicada em 1860 pela livraria de Édouard Dentu (que também imprimiu obras de Kardec), curiosamente não traz o nome do autor; contudo, o nome de “Hermance Dufaux” aparecerá no 11° tomo do Catálogo da História da França (da Biblioteca Nacional da França) como a credora desta autoria, conforme informação do Sr. Barbier (autor de um dicionário de obras anônimas de 1875). Maronitas são cristãos da igreja católica de rito oriental estabelecida no Líbano, conhecida como Igreja Siríaca Maronita de Antioquia. Interessante observar ainda que este lançamento do livro não é comentado por Allan Kardec na Revista Espírita.

Segundo o volume de 1898 do Boletim da Sociedade Literária e História de la Brie, fundada em Meaux no ano de 1893, a Srta. Dufaux de la Jonchère, residente em Mont-Valérien, era um dos membros correspondentes daquele círculo literário; o mesmo boletim, inclusive, destaca alguns poemas da mencionada sócia, por exemplo, “A morte de Joana d’Arc”, recitado naquela sociedade por Paul Mounet, numa seção solene em 20 de junho de 1897.

Não é absurdo pensar que ela tenha ido morar com sua Irmã, Marguerite, que se casou em 1883 e manteve o endereço da mãe, em Paris (na rua des Beaux Arts, 6), de acordo com a certidão de seu casamento; mas em algum momento Ermance acabará se mudando para o número 18 da Rua du Fécheray em Suresnes, uma comuna pertencente à região metropolitana da capital francesa, pois este é o endereço que consta no seu registro de óbito, em 3 de março de 1915.


Legado da mademoiselle Dufaux

Não foi pouco a contribuição de Ermance Dufaux de La Jonchère para o Espiritismo; além de emprestar seus dons mediúnicos diretamente a Allan Kardec em face da sistematização da Doutrina Espírita, inclusive pela intermediação de comunicações importantes para as obras básicas da codificação, bem como de seu papel na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, há que se salientar o próprio desafio de assumir o título de médium numa época em que o diagnóstico comum para pessoas tais era o de demência, histeria ou perturbações outras — não bastasse o desafio de ser uma mulher, jovem e solteira.

A mademoiselle Dufaux, por sua vez, parece ter se habituado tanto ao mediunato que não deixou nenhum esboço de inquietude ou queixa, mesmo ante as críticas e desconfianças sobre suas faculdades psíquicas — talvez em função do apoio paterno, que igualmente tem grandes méritos anotados na galeria dos espíritas pioneiros.

Nenhum registro histórico conhecido desabona a integridade moral de Ermance, o que é um traço biográfico expressivo, especialmente considerando a corriqueira exploração financeira da mediunidade em sua época. Por isso, seu nome está consagrado entre os maiores personagens da primeira hora do Espiritismo.


Curiosidades sobre Ermance Dufaux

  • Na Revista Espírita de março de 1858, tratando do caso do Espírito Lemaire, Kardec coloca uma nota contendo um diálogo com outra entidade invisível, Raquel (Rachel, em francês), que alega ter fortes laços espirituais com a médium da sessão (Ermance), quem ela descreve como alguém que “jamais deixou inteiramente o mundo dos Espíritos”, acrescentando que quando evocada por esta amiga, ela vem imediatamente. Segundo a fanpage Variações Intuitivas, esta entidade é a que animou Élisabeth-Raquel Félix (1821-1858), uma cantora e atriz francesa que alcançou considerável sucesso, e que muito provavelmente teve algum contato com Rivail (Allan Kardec, antes do Espiritismo) enquanto ele trabalhou como administrador de teatros. Rachel era de uma magnética beleza e doçura na voz, embora de temperamento “extrovertido e combativo”; adoentada, foi tratada até seu falecimento pelos cuidados do dramaturgo Victorien Sardou, espírita e amigo de Kardec. Os esforços dos jornais da época para publicar fotos dela em seu leito de morte levaram à introdução dos direitos de privacidade na lei francesa. A Avenue Rachel, em Paris, que termina no Cemitério de Montmartre, foi rebatizada em sua homenagem em 2 de agosto de 1899. Em vida, foi espiritualista e frequentou sessões mediúnicas, inclusive tendo premonição da própria morte enquanto encenava uma peça. Então desencarnada, também se manifestou na SPEE através da médium Sra. Costel em 30 de novembro de 1860 (Revista Espírita de janeiro de 1861; ‘Boletim da SPEE’). Em dezembro de 1874, ditou à médium Madame A. Krell uma tocante mensagem intitulada “Os artistas e seu papel da sociedade”, predizendo que “Um dia chegará em que os sentimentos mais depurados ensejarão aos artistas uma nobre tarefa, até lá, fazei votos para que os gostos saiam da lama atual, para que o belo seja compreendido e o bem seja apreciado; aí então nossos louros serão verdadeiras coroas e nosso trabalho uma felicidade.”


  • No Brasil, algumas obras foram publicadas com autoria atribuída ao Espírito Ermance Dufaux, sendo a mais notária delas Reforma Íntima Sem Martírio, por Wanderley Oliveira, lançado em 2023 com o selo da Editora Dufaux. Assim diz certo trecho da Introdução desta obra:

    “Reforma íntima não deve ser entendida apenas como contenção de impulsos inferiores. Muito além disso, torna-se urgente analisá-la como o compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento dos lídimos valores humanos na intimidade. Circunscrevê-la a regimes de disciplina pela vigilância de vontade e vontade poderá instituir a cultura do martírio e da tormenta como quesitos indispensáveis ao seu dinamismo.”
    Reforma Íntima Sem Martírio, (Ermance Dufaux) Wanderley Olivera - Introdução


  • No filme Kardec, a história por trás do nome, dirigido por Wagner de Assis e lançado em 2019, a personagem Ermance Dufaux aparece em destaque, sendo interpretada pela atriz Louise D'Tuani.


    Ermance Dufaux (Louise D'Tuani) no filme Kardec (2019)


Veja também


Referências

  • Revista Espírita, Allan Kardec: coleção 1858 - Ebook; coleção 1860 - Ebook; coleção 1862 - Ebook; coleção 1863 - Ebook.
  • Obras Póstumas, Allan Kardec - Ebook.
  • O Céu e o Inferno, Allan Kardec - Ebook.
  • Catálogo Racional das obras que podem servir para formar uma Biblioteca Espírita, Allan Kardec - Ebook.
  • Verbete “Hermes” na Wikipédia.
  • Revista Espiritualista, outubro de 1861 - IAPSOP.
  • Gazette du Midi, 24 de maio de 1857 em RetroNews.
  • O Livro dos Espíritos e sua Tradução Histórica e Lendária, Canuto Abreu - Ebook.
  • “Srta. Ermance Dufaux”, pelo CSI do Espiritismo: - Facebook.
  • Ficha catalográfica de Ermance Dufaux na Biblioteca Nacional da França - BnF.
  • História de Luís XI ditada por ele mesmo (Histoire de Louis XI dictée par lui-même), Ermance Dufaux, no jornal La Vérité.
  • História de Joana d’Arc ditada por ela mesma (Histoire de Jeanne d’Arc dictée par elle-même), Ermance Dufaux - Google Books.
  • “História militar de Eugênio de Beauharnais” (Histoire militaire d'Eugène de Beauharnais), Ermance Dufaux, no jornal Le Sauveur des Peuples.
  • Boletim da Sociedade Literária e Histórica de La Brie (Bulletin de la Société littéraire et historique de la Brie), 2° volume, 1898 - Gallica.
  • Biografia de Ermance Dufaux no site da febnet.
  • "Elizabeth-Rachel Félix e Hermance Dufaux de La Jonchère", na fanpage Variações Intuitivas - Facebook.
  • “La Jonchère, a médium do útil, do bem e do belo”, por Variações Intuitivas - Facebook.
  • Le savoir-vivre dans la vie ordinaire et dans les cérémonies civiles et religieuses, Ermance Dufaux - Gallica.
  • Ce que les maîtres et domestiques doivent savoir, Ermance Dufaux - Gallica.
  • L'Enfant, hygiène et soins maternels pour le premier âge, à l'usage des jeunes mères et des nourrices, Ermance Dufaux - Gallica.
  • Traité pratique de la broderie, Ermance Dufaux - Gallica.
  • Espíritos sob Investigação: resgatando parte da História, Carlos Seth Bastos - CCDPE-ECM.
  • “Novas obras da Srta. Dufaux”, pelo CSI do Espiritismo - Facebook.
  • Les maronites et la France [Os maronitas e a França], Hermance Dufaux - Numelyo.
  • Catalogue de l'histoire de France (Catálogo da História da França)da Biblioteca Nacional da França, 11° tomo - Google books.
  • Verbete “Rachel Félix” (em francês) na Wikipédia.
  • Reforma Íntima Sem Martírio, (Ermance Dufaux) Wanderley Oliveira - Google Books.


Tem alguma sugestão para correção ou melhoria deste verbete? Favor encaminhar para Atendimento.


Índice de verbetes
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
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Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
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Conan Doyle, Arthur
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Doyle, Arthur Conan
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Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
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Espiritual
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Fascinação
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Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
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Fropo, Berthe
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Gama, Zilda
Glândula Pineal
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Herculano Pires, José
Herege
Heresia
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Imortalidade da Alma
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Johann Heinrich Pestalozzi
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Místico
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